O aumento da violência entre os jovens brasileiros, além de ser alvo de estudo vem causando espanto na população, principalmente, quando esse fenômeno ocorre com jovens de classe social média e alta brasileira. Público esse que tangencia no imaginário social os responsáveis por esse problema, como sendo uma condição sine qua non dos jovens negro-pobre-desocupado-analfabeto (funcional ou não)-habitante de periferia-com família desestruturada, incluindo suas explicações em termos da privação relativa; atualmente esse problema não tem essa configuração, ele vem apresentando uma outra cara e dinâmica. Ao tratar de um fenômeno desse porte, geralmente, se considera aquele jovem que apresenta condutas tangenciadoras da norma social, caracterizada como conduta anti-social (refere-se à não conscientização das normas que devem ser respeitadas; sabe da existência, mas não são praticadas) e delitiva (concebidas como merecedoras de punição, capazes de causar danos graves, morais e/ou físicos. Portanto, podem ser consideradas mais severas que as anteriores, representando uma ameaça eminente à ordem social vigente). O que essas condutas têm em comum é que ambas interferem nos direitos e deveres das pessoas, ameaçando o seu bem-estar integral, bem como, diferenciando-as em função da gravidade das conseqüências oriundas. É possível que alguns jovens tenham praticado algum tipo de conduta anti-social, o que faz parte do repertório deles, salientando como um desafio dos padrões tradicionais da sociedade, pondo em evidência as normas da geração dos seus pais. Mas, quando elas não são inibidas, através de um processo socializador na família ou escola, existe grande possibilidade de que se converta numa conduta delitiva, fazendo referência, respectivamente, a chamada adolescência delinqüente, limitada e persistente, susceptível a todo jovem. Com isso, é possível perceber que a preocupação com esse fenômeno está no que diz respeito à cultura individual, passando a estigmatizar como A CULTURA juvenil, destacando sua unicidade hábil-motivacional, desenvolvimentista e educacional, excluindo a complexidade e diversidade sócio-humana frente à formação de civilidade. Apesar de se reconhecer esse problema, tanto por parte da ciência social e humana, bem como, pelo senso comum, o que leva esses jovens a manifestarem atos desse porte? Algumas explicações para os motivos desses atos são dos mais variados: desde funcionalidade e estruturação da família, passando pela formação e organização da personalidade, aos valores humanos. Porém, neste sentido, faz-se pertinente considerar os padrões de orientação culturais: individualismo e coletivismo, uma vez que ao se adotar um ou outro, o indivíduo irá se comportar de forma coerente com este. O individualismo expressa uma tendência ao sucesso, a valorizar a própria intimidade e uma necessidade de adequar-se ao contexto social, visando obter recompensas. O coletivismo define uma tendência à cooperação e ao cumprimento com relação aos demais; internamente, as pessoas com orientação coletivista, mantêm fortes relações entre si, podendo compartilhar os mesmos interesses. Tais construtos, além de serem definidos como síndromes culturais, consistem em compartilhar atitudes, crenças, normas, papeis sociais e definições do eu, sendo os valores dos membros de cada cultura organizados de forma coerente com um tema. Partindo desta perspectiva, uma reflexão que merece destaque nos últimos anos diz respeito às mudanças culturais que vem ocorrendo de forma muito veloz nos países ocidentais, as quais apreendem um espírito individualista, subordinando os interesses e prioridades pessoais ao invés daqueles do grupo. Os jovens procuram, excessivamente, a obtenção de prestígio e quando na falta de recursos econômicos ou mesmo de apoio social, na maioria das vezes, procuram alcança-los através das condutas que tangenciam as normas sociais a fim de atender apenas seus prazeres e satisfação. Desta maneira, os comportamentos de risco parecem ser legitimados nas relações interpessoais, priorizando os comportamentos individualistas juvenis, por exemplo, buscando novas experiências, prazer e emoção, justificando-os como saída da monotonia ou inclusa na vida adolescente. O que ocorre de fato, é que os jovens guiam-se por um tipo de orientação cultural, destacado anteriormente como individualista ou coletivista, garantido através do contexto ou situação em que vivem variações na sua forma de se auto-perceber e aos relacionamentos interpessoais, contribuindo para que definam um estilo-atributo mais apropriado para agirem: se devem atuar como Um ser único, diferente dos demais; Orientado ao êxito e ao triunfo; Cooperador, que colabora; Cumpridor dos deveres com os demais, servidor; Batalhador, busca sua sobrevivência; Expressivo, amigável e familiar. Desta maneira, o principal objetivo desse estudo trata-se de avaliar a relação entre os estilos de orientação cultural individualista e coletivista e as condutas anti-sociais e delitivas. Método: 428 sujeitos, de ambos os sexos, entre 15 e 20 anos, 92% solteiros e renda acima de 1.800,00 reais, responderam o questionário dos tipos de orientação cultural e condutas anti-sociais e delitivas. Através do SPSSWIN 11.0 calculou-se estatística descritiva e correlação de Pearson. Resultados: Observou-se que as condutas anti-sociais relacionaram-se, negativamente, a um p< 0,01, com os tipos de orientação: Cooperador, que colabora (r = -0,21); Cumpridor dos deveres com os demais, servidor (r = -0,18) e Expressivo, amigável e familiar (r = -0,16); por outro lado, os estilos culturais Um ser único, Diferente dos demais (r = 0,11) e Orientado ao êxito, ao triunfo (r = 0,15), correlacionaram positivamente com esta conduta. No que se refere à conduta delitiva, houve uma relação negativa, a um p < 0,01, com o tipo de orientação Cooperador, que colabora (r = -0,10), e positivamente, com o tipo Orientado ao êxito, ao triunfo (r = 0,14); para os outros tipos nao foi encontrado relação positiva para essa conduta. Em termos da conduta desviante (CAD) considerada a partir do somatório de todos os itens do instrumento, observou-se que este, correlacionou-se negativamente, a um p< 0,01, com os tipos de orientação Cooperador, que colabora (r = -0,21); Cumpridor dos deveres com os demais, servidor (r = -0,15) e Expressivo, amigável e familiar (r = -0,14), já os estilos Um ser único, Diferente dos demais e Orientado ao êxito, ao triunfo apresentaram escores correlacionais positivos, (respectivamente, r = 0,10 e r = 13). Conclusao: Refletir sobre este construto é apontar em direção de que os comportamentos juvenis, principalmente aqueles característicos da delinqüência, na época atual é capaz também de ser avaliado como síndromes culturais, especificamente, quanto ao estilo comportamental mais apropriado, isto é, o tipo de orientação que possam assumir na dinâmica psicossocial. A partir desses resultados quanto maior fomentar estilos culturais coletivistas - Cooperador; Cumpridor dos deveres com os demais; Expressivo, amigável - maior a contribuição para fatores de proteção do risco social e psicológico causado pelas condutas delinqüente. Por outro lado, ao priorizar os estilos culturais individualistas, podendo contribuir como fator de risco das condutas desviantes, já que tais estilos tem sido condição sine qua non para caracterizar a vida moderna, exigência social e comportamento juvenil. Palavras-chave: Conduta desviante; Individualismo; Coletivismo; Jovens. |