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Abrapso

ANAIS DO XIV ENCONTRO NACIONAL DA ABRAPSO - RESUMO
ISSN 1981-4321

Tema: Sessões Temáticas - Outros

EXPOSIÇÃO DE ARTES PLÁSTICAS NO TEATRO: A PSICOLOGIA SOCIAL DA ARTE NO ESTUDO DA RECEPÇÃO ESTÉTICA DA EXPOSIÇÃO INPACTO

Financiador:
FAPESP E PRÓ-REITORIA DE PESQUISA ( Instituição Financeira)
Autor:
LUÍS FELIPE FERRO - INSTITUTO DE PSICOLOGIA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (IPUSP) PROF. DR. ARLEY ANDRIOLO - INSTITUTO DE PSICOLOGIA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (IPUSP) PROF. DRA. ELIANE DIAS DE CASTRO - DEPARTAMENTO DE FONOAUDIOLOGIA, FISIOTERAPIA E TERAPIA OCUPACIONAL DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (FOFITO-USP)
Em novembro de 2006 toma lugar, no teatro municipal de Osasco, a exposição INPACTO. Esta exposição é resultado do término de um grupo atendido por 6 anos pelo Programa Permanente Composições Artísticas e Terapia Ocupacional do departamento de Fonoaudiologia, Fisioterapia e Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo (PACTO - FM - USP). O projeto de pesquisa que promoveu estas exposições é financiado pela FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e pela Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária da Universidade de São Paulo. O presente estudo se realiza a partir do Laboratório de Estudos em Psicologia da Arte da Universidade de São Paulo (LAPA-USP). Neste trabalho visamos analisar a recepção estética do público que freqüentou esta exposição, para tanto nos utilizamos da técnica de entrevistas abertas. Uma nuance dos dados obtidos através destas entrevistas nos interessa em particular para análise minuciosa neste trabalho. Focaremos com maior propriedade na questão do espaço da exposição INPACTO, qual seja, o ambiente de um teatro. Procura-se trazer para discussão a importância de pensar amplamente o espaço expositivo e suas influências na recepção estética do público. A exposição INPACTO apresentou 85 peças como material expositivo, as quais variam em sua técnica: pintura em tela e canson com tinta guache e óleo, xilogravuras, esculturas. A exposição apresenta ainda bordados em lençóis, móbiles com a história dos artistas e textos sobre o processo de realização de atividades artísticas nos ateliês de terapia ocupacional. Em um processo de busca dos locais para a exposição, artistas e técnicos imergem no contexto cultural da cidade e procuram parcerias para este projeto coletivo. Um destes locais, o teatro municipal de Osasco, localizado na avenida dos Autonomistas, 1533, acolhe esta produção e dispõe seu saguão de entrada para a exposição. É importante neste momento a caracterização mais densa deste espaço expositivo. A arquitetura do edifício foi inicialmente pensada para abarcar um público condizente a outro tipo de manifestação artística, peças teatrais e apresentações musicais, e este processo de variações no uso de um ambiente cultural resulta em diferentes posturas dos indivíduos diante das artes visuais, como pôde ser observado nas entrevistas. O espaço do Teatro Municipal de Osasco realiza exposições pontuais de artes plásticas no seu saguão de entrada do teatro, porta de passagem para os espetáculos, onde necessariamente deve-se transitar para ir ao teatro. Até mesmo a fila da entrada do teatro se dá neste local. O teatro Municipal de Osasco, no entanto, é mais conhecido pela população que a freqüenta como espaço teatral, o que como veremos influenciará diretamente na recepção estética de parte do público que freqüentou a exposição INPACTO. Nesta organização espacial, o público assume uma atitude peculiar. Seu espaço não é conhecido socialmente por ser destinado a exposições de artes plásticas. Seus freqüentadores para lá se dirigem basicamente para assistir as peças teatrais e formam até mesmo uma configuração não usual de visitação a uma exposição. Próximo ao início do evento teatral e / ou musical, o público aparece em massa, entra em massa para a apresentação, sai em massa da apresentação. Essa configuração de chegada e saída do público imprime um ritmo próprio para a exposição neste local. A exposição, neste contexto, se estabelece como pano de fundo para o teatro, realmente pano de fundo, algo próximo a um 'invisível' quadro na casa de um amigo que não se vê há tempos, para onde se ruma visando saciar a grande saudade. Grande parte do público nas filas, por sua intencionalidade de visitar as apresentações teatrais / musicais, não olha sequer a exposição, ou olha como se olharia de 'canto de olho' para o 'invisível' quadro da casa do amigo, até as conversas na fila se fazem em maioria de costas às obras. As paredes falsas servem de escoramento para a cansada espera na fila. Fato curioso se deu em uma aproximação corajosa a uma das pessoas da fila para entrevistá-la. Senhora, já de uma certa idade, com a cabeça abaixada esperando o andar da fila, ao ser inquirida sobre a possibilidade de dar uma entrevista a respeito da exposição, levanta a cabeça e, como que a enxergando pela primeira vez, quase que como num susto do "de onde veio esta exposição?", comenta que não olhou a exposição e que não o faria, impossibilitando a entrevista. Sirvo-me aqui do conceito de "não-lugar", emprestado do antropólogo Marc Auge por Ricardo Gomide Santos, que o utilizou ao estudar as obras de arte nos metrôs da cidade de São Paulo em seu projeto intitulado "Obras de Arte no metrô de São Paulo: um estudo junto aos seus usuários", defendido como dissertação em 2006 no Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. SANTOS (2006) comenta "...no interior do não-lugar a presença de todos se faz como ausência; cada um se faz presente até ter condições de se fazer ausente física ou psicologicamente...". Referindo-se ao espaço transitório, de passagem, de um metrô, onde a pressa, o estresse, se fazem presentes. SANTOS (2006) utiliza-se da expressão "postura blindada" para demonstrar a impenetrabilidade do espaço às pessoas, culminando no "não-lugar". Em nossa experiência na exposição, o paralelo se faz. Neste contexto, uma boa parte do público do espaço expositivo "IN PACTO", transita com sua postura blindada por este espaço, procurando passar por ele da forma mais rápida possível e entrar no teatro chegando à sua requerida peça, podendo retirar a carapaça por instantes... É importante reiterar: a recepção estética e fruição das obras de arte nunca acontecem por si mesmas, descontextualizadas, tendo a obra como único suporte de apoio. Não é possível analisar a recepção estética do público, em suas condições psicossociais, sem vincular a mesma à exposição e ao espaço expositivo. O conceito ampliado de espaço expositivo é de principal importância para a análise da recepção estética das obras de arte, assim como a análise do contexto social em que se inserem estas produções. Restringimo-nos à breve citação deste último ponto, que deixamos para exploração minuciosa em trabalhos vindouros.
 
 

   
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