Relações de trabalho, liderança e autogestão na economia solidária: alternativas na promoção de saúde dos trabalhadores. Maíra Freitas Barbosa (Bolsista UNIBIC/Unisinos), Profª Drª Marília Veríssimo Veronese (PPG Ciências Sociais Unisinos) Esta pesquisa surge a partir do desenvolvimento da pesquisa já em andamento intitulada "As representações sociais da liderança em empreendimentos econômicos solidários" de autoria da professora Marília Veríssimo Veronese, sendo que a investigação insere-se na Linha de Pesquisa Trabalho, Cooperação e Solidariedade, no Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da UNISINOS, a partir do Grupo de Pesquisa em Economia Solidária - ECOSOL. A partir deste breve estudo, pretendo verificar as relações existentes entre autogestão em empreendimentos econômicos solidários (EES) e a promoção de saúde do trabalhador. Partindo da idéia de que o empreendimento solidário consiste em uma alternativa à redução na exclusão do mercado de trabalho, sendo um local de promoção dos laços de comunidade de trabalho e compromisso com o bem-estar social, este estudo procura investigar nestes espaços, através da presença de fatores como a autogestão (a partir de seus elementos constituintes, autonomia, participação, democracia e liderança) os meios de promoção de saúde do trabalhador. Empreendimentos Econômicos Solidários e Autogestão: A associação autogestionária dos trabalhadores é hoje uma importante ponte entre o campo do econômico e a demanda social, diante das desigualdades que impedem o acesso ao trabalho como modo de inclusão social com dignidade. Através da autogestão na economia solidária, que se diferencia da heterogestão onde a alta cúpula decide, orienta e define os rumos dos processos da e na produção. Na autogestão, as decisões deverão dar-se no coletivo, discutindo-se em grupo quais são as ações prioritárias. É definida como o conjunto de práticas que propicia a autonomia de um coletivo responsável pela concepção e decisões dos processos de gestão, entendida como um fenômeno multidimensional que ultrapassa a noção de gerência, abrangendo vários aspectos como políticas, técnicas etc. Liderança, participação e êxito nos EES: A liderança é uma questão chave para o êxito dos processos autogestionários já que a autogestão difere-se em seus princípios diversos da heterogestão. Esta se refere a uma liderança solidária, como participação de cada um na ação coletiva. Os resultados do projeto de pesquisa "A constituição do sujeito nos processos autogestionários de trabalho", executado entre agosto de 2005 até dezembro de 2006, também realizado pela Profª Drª Marília Veríssimo Veronese, demonstram que a ausência de lideranças, de trabalhadores que já apresentam uma caminhada política com engajamento em movimentos populares, é fator negativo para o êxito dos empreendimentos. Aqueles que contam com a presença de lideranças, demonstram maior capacidade para enfrentar os desafios do trabalho associativo, verificando como pessoas envolvidas em grupos e organizações autogestionárias sustentam uma ação continuada visando um objetivo comum. A presença de lideranças democráticas e integrativas, que estimulem a promovam a participação e o protagonismo dos diversos atores em questão, é fator decisivo para o êxito dos empreendimentos. Saúde do Trabalhador e Economia Solidária: Os empreendimentos econômicos solidários apresentam uma nova forma de organização do trabalho, onde as relações precisam se estabelecer em um patamar de igualdade entre os trabalhadores; estes são em sua maioria egressos de formas de trabalho heterogestionárias, muitas vezes autoritárias, tornando-se vital para os trabalhadores desenvolver habilidades sociais necessárias à prática da autogestão, através de processos de liderança que permitam a criatividade e a autoridade compartilhada. Torna-se relevante este estudo que se propõe a investigar as relações entre autogestão, liderança e promoção de saúde do trabalhador em empreendimentos de economia solidária, pois estes espaços mostram-se promotores da autonomia, da ação democrática e de igualitarismo possibilitando um novo modo destes sujeitos relacionarem-se e ressignificarem o seu trabalho, já que estes devem apropriar-se coletivamente da produção, através do trabalho associado autogestionário. Esta confluência de fatores parece propiciar um novo ambiente de trabalho que tem como um de seus objetivos a promoção de bem-estar social para os sócios do empreendimento e, também, seu entorno. Como conseqüência provável deste bem-estar a ser verificada deverá estar a promoção de saúde no trabalho. O conceito de saúde do trabalhador é bastante amplo e engloba ações de promoção, prevenção, reabilitação, assistência, atenção etc. Entende-se como saúde do trabalhador um saber prático interdisciplinar onde estão situadas a Medicina, Psicologia, Enfermagem, Serviço Social etc. Enquanto prática na promoção de saúde do trabalhador deve-se levar em conta o compromisso com a saúde, contrariando a lógica do capital de deter-se com a produtividade, não considerando apenas uma questão de estar ou não apto a desenvolver esta tarefa. O contexto atual de precarização e flexibilização do trabalho, sem contar com os altos índices de desemprego, tem evidentemente deteriorado as condições de promoção de saúde no âmbito do trabalho. Pela prática nos empreendimentos de economia solidária se mostrarem fortemente distintos dos modos de trabalho (empregos) da economia capitalista, que são comprometidas com o lucro em detrimento da saúde do trabalhador, parece de grande valia estudar a relação entre autogestão e liderança na economia solidária e a promoção de saúde do trabalhador. Para esta pesquisa, pretendo inicialmente realizar um estudo bibliográfico definindo algumas temáticas que se fazem relevantes: uma breve problematização das transformações nas relações de trabalho contemporâneas (precarização, flexibilização, neoliberalismo, globalização, novas estratégias de gestão), o estudo sobre os conceitos de autogestão, liderança, empreendimentos solidários, e a promoção de saúde do trabalhador nestas alternativas econômicas. Como campo para um estudo exploratório pretendo utilizar os dados do questionário suplementar sobre autogestão, originado a partir do Primeiro Mapeamento Nacional da Economia Solidária no Brasil, vinculados ao Sistema Nacional de Informações sobre a Economia Solidária - SIES. Por agregar informações de aproximadamente 15 mil empreendimentos, distribuídos em 2.274 municípios brasileiros, essa base pode ser considerada altamente representativa das organizações econômicas vinculadas à economia solidária. Buscarei a partir destes dados, as possíveis relações entre índices de autogestão e saúde do trabalhador. Partindo assim, destas informações poderei selecionar os empreendimentos econômicos solidário que forem mais relevantes para um estudo qualitativo, aprofundando e complexificando as perspectivas sobre o tema. Conseqüentemente, viso a produção de trabalhos em uma área de conhecimento que ainda conta com pouca contribuição em produção específica. |