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Abrapso

ANAIS DO XIV ENCONTRO NACIONAL DA ABRAPSO - RESUMO
ISSN 1981-4321

Tema: Sessões Temáticas - Infâncias, Adolescências e Famílias

AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DOS PROFESSORES DE ESCOLA PÚBLICA SOBRE OS FILHOS DE MULHERES PRESAS

Autor:
OLGA ALMEIDA DE SOUZA, JULIANA KEIKO NAKAGAWA - UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE ROSA PINHEIRO DE CASTRO - UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CLAUDIA STELLA - UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE PAULO ROBERTO DE SOUZA - UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE LEANDRO SIMÕES - UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE
Título: A Representação Social dos Professores de Escola Pública Sobre os Filhos de Mulheres Presas. Nome dos pesquisadores: Claudia Stella; Juliana Keiko Nakagawa; Leandro Simões Wanderley; Marcelo Rodrigues Silveira Oliveira; Olga Almeida de Sousa; Paulo Roberto de Sousa Alves; Rosa Pinheiro de Castro. Este trabalho analisou quais são as representações sociais que os professores de escola pública têm e passam em seu trabalho sobre os filhos de mulheres presas com base na Teoria Crítica de Sociedade, bem como autores que destrincham os problemas dos estigmas que essas crianças carregam em seu desenvolvimento. Os filhos de mulheres brasileiras presas formam uma população marginalizada, pois é desconsiderada e desconhecida em seus diversos aspectos. Considerando que a escola exerce um papel fundamental na socialização do indivíduo, foi importante observar quais foram as representações sociais sobre essa população, como também as implicações dessas representações no fazer pedagógico. Para a realização deste trabalho, entrevistamos professores de escolas públicas de duas diferentes regiões, uma no centro da cidade de São Paulo e outra na periferia de São Bernardo do Campo. Os filhos de mulheres presas são como uma população esquecida, desconhecida pela sociedade e por suas instituições como a escola. A escola pública é fonte de expectativas sociais, portanto deve contribuir para o processo de formação e emancipação dos indivíduos. O professor, como todo e qualquer indivíduo, em seu processo de socialização construiu e conserva valores, estruturas e crenças agindo de modo pessoal fruto de interações sociais, e experiências adquiridas por meio da aprendizagem e das representações. Estas concepções pré-determinadas interagem com sua própria formação e com as ações pedagógicas que ele desenvolve em sala de aula. O professor como ser em movimento possui estruturas de valores e crenças, agindo de modo pessoal constituindo parte de sua identidade, que é fruto de interações sociais e expressões sócio-psicológicas adquiridas de aprendizagens e representações. Esse fluxo interage diretamente no seu processo de formação como também nas ações pedagógicas que ele desenvolve em sala de aula. Assim, o trabalho do professor, juntamente como papel social que este exerce numa determinada sociedade, está ancorado num mar de representações sociais, constituídos ao longo de sua história por meio de suas vivências, relações e interações. Vê-se, nas representações, como elas transformam as relações em estereótipos e posteriormente pré-conceitualizando-as. O objetivo do presente trabalho é analisar as representações sociais que os professores de escola pública têm sobre os filhos de mulheres presas com base na Teoria Crítica da Sociedade, tendo como principal referencial a teoria de Theodor W. Adorno, no seu livro Educação e Emancipação, que busca contrapor a Teoria Tradicional, de tipo cartesiano busca unir teoria e prática, ou seja, incorporar ao pensamento tradicional dos filósofos uma tensão com o presente, lançando luz sobre um tema social ainda pouco discutido e sem muito material divulgado. Para o desenvolvimento desta pesquisa, foram selecionados quatro professores de ambos os sexos, de duas escolas públicas, uma no centro de São Paulo, e outra na periferia de São Bernardo do Campo -SP. O instrumento utilizado para a coleta de dados foi entrevista qualitativa e semidirigida para melhor registrar (e posterior análise) as experiências dos docentes sendo elas gravadas e transcritas e feitas no próprio ambiente de trabalho de cada professor entrevistado. Por meio do roteiro de entrevista, foram eleitas algumas categorias de análise (Formação do professor; Relação professor-aluno; Discriminação; Filhos de mulheres presas: comportamento e representação social; Inclusão Social), as quais foram bases de nossa discussão e análise. A análise das entrevistas realizadas com os professores permitiu emergir as imagens que esses cultivam sobre os filhos de mulheres presas, que por sua vez, advém de representações sociais coletivas, ou seja, são representações adquiridas por meio do convívio em sociedade, bem como inconscientemente, o que implica na retransmissão dessas para as crianças através do fazer didático dos professores. Na representação dos filhos de mulheres presas observaram-se preponderantemente imagens que têm os filhos de mulheres presas como indivíduos fragilizados, utilizando termos como "coitado", ou que precisam de ajuda, assistência para prevenir possíveis desvios que poderão levá-los ao mesmo destino que suas mães, sendo este por si mesmo um processo discriminatório, permeando assim o fazer pedagógico. No entanto, essa representação se deve ao simples fato de que não havendo reconhecimento da verdadeira situação dos filhos de mulheres presas, bem como a inexperiência no contato com esses, não se faz possível a reconstrução de novas imagens, que poderiam contribuir para o desenvolvimento de um ambiente no qual o profissional não teria que tentar demonstrar uma naturalidade diante da situação dessas pessoas, camuflando a discriminação, deixando emergir as representações sociais, já que essas norteiam o comportamento e a comunicação.. A escola passa também a ser o meio para a instrumentalização do mercado de trabalho, perdendo para o foco pragmático seu objetivo inicial de emancipação, no qual é também promovido um processo de exclusão, deixando emergir a contradição de que a escola não é para todos, e concretiza-se, assim, uma representação coletiva baseada no aluno como objeto e sujeito de sua história. Quando o tratamento social em que o outro não é mais considerado "pessoa" ou em que o laço de solidariedade é rompido, perpetua-se o processo de exclusão, confirmado nas entrevistas. Chamou-nos a atenção que nenhum professor lecionou para filho de mulher presa e não tem conhecimento de ninguém que já tenha lecionado. Isso se deve ao distanciamento da problemática, isto é, ao evitá-la, não é possível resolvê-la, senão superficialmente, deixando pendente o cerne da questão, confirmando que os filhos de mulheres presas são marginalizados pela sociedade. Este fato pode nos levar a duas considerações: primeira que não existem crianças nesta situação nas escolas pesquisadas (o que superou a idéia de que na periferia certamente teria), segundo é que os filhos de mulheres presas são de fato como uma população esquecida e ignorada pela sociedade e suas instituições, tal como a escola, esta responsável pela reflexão, consciência e emancipação (de seus alunos e dos próprios educadores), e mesmo assim, influi na representação social do profissional desta instituição, responsável pela não perpetuação da barbárie ao pôr em questão assuntos como prisão e quem está relacionado a ela. Verificamos que atrás da prisão materna existe uma legião de crianças esquecidas e desconsideradas por vários segmentos da sociedade, sofrendo o impacto de ser marginalizado injustamente pelo principal órgão educador e formador de sua consciência. Nessa problemática, percebemos que não se trata de uma questão isolada ou particular. É uma questão que afirma uma tendência que está presente em diversas esferas sociais e que passa despercebida na consciência dos corpos que a constituem. "advêm de uma concepção de currículo acadêmico, do processo ensino-aprendizagem, de pesquisa, da relação professor-aluno, da relação da universidade com o seu meio ambiente social e natural- fossilizada por um modelo hegemônico de racionalidade"
 
 

   
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